quinta-feira, 3 de outubro de 2013

MINISTRA DA CULTURA, MARTHA SUPLICY, AFIRMA QUE CRITÉRIO PARA LEVAR AUTOR A FRANKFURT FOI LITERÁRIO E NÃO ÉTNICO

Edição: Adilson Gonçalves Fonte Folha de São Paulo
A ministra da Cultura, Marta Suplicy, afirmou na manhã desta quarta-feira (2/10), em entrevista na Biblioteca Nacional, no Rio, que não foi usado nenhum parâmetro étnico na escolha da delegação de escritores brasileiros para a Feira do Livro de Frankfurt. Marta comentou a polêmica, levantada na imprensa alemã, de que teria havido racismo na seleção dos integrantes da comitiva oficial brasileira para o evento, que neste ano tem o Brasil como país convidado. Na delegação brasileira há 70 autores e somente um negro, Paulo Lins. A imprensa alemão também destacou o fato de só haver, entre os 70, um descendente de indígena, Daniel Munduruku.
"O critério não foi étnico, o critério foi outro e eu achei correto. O primeiro era a qualidade estética, depois autores que tivessem livros traduzidos para o alemão e língua estrangeira. A Feira de Frankfurt é uma feira comercial e nós temos que dar prioridade a quem já está lá e vai poder se colocar também pela diversidade", disse Marta Suplicy.
A ministra afirmou ainda que o país vive um momento de transformação, o que vai permitir que, nas próximas gerações, haja um número maior de negros em eventos como esses. "Hoje infelizmente não temos. Devemos entender que toda lista tem sempre um recorte que provoca discussão", afirmou.
Em sua página no facebook, Paulo Lins ironizou a situação. Ao postar o link desta reportagem da Folha, comentou: "Aposto que se der algum problema o culpado vai ser eu".

De acordo com a coordenadora do Centro Internacional do Livro da Biblioteca Nacional, Moema Salgado, o critério de traduzir os livros surgiu em acordo com a organização da feira. "Achei até estranho os próprios alemães levantarem essa questão. É uma demanda da feira internacional. Quem vê um debate, quer ter um livro traduzido para comprar", disse.
Sobre o Brasil ter decidido a delegação brasileira em março, quando foram anunciados os 70 nomes de escritores que viajariam pelo Ministério da Cultura, e e deixado para fazer a licitação apenas às vésperas do evento, a ministra disse que o processo foi retardado por mudanças administrativas na pasta, na Biblioteca Nacional e no Itamaraty.
"Foram três mudanças ao mesmo tempo: no ministério, na Biblioteca Nacional e do embaixador [na verdade o cônsul brasileiro em Frankfurt]. Essas mudanças todas acarretaram várias confusões, mas viramos a página e fomos em frente. Quando se dizia que a licitação ia ficar no vazio, que os autores iam ficar sem hospedagem, não aconteceu nada disso, nós temos tudo resolvido e da melhor maneira possível, com um hotel quatro estrelas dentro do nosso orçamento. Estamos satisfeitos", afirmou Marta.
Em tom irônico, a ministra disse que sobraram vagas de hospedagem. "Quem quiser ir, ainda tem lugar."

O Ministério da Cultura divulgou que um hotel da rede Holiday Inn ofereceu 656 diárias a R$ 315 mil, além de translado ao evento --no resultado da licitação de hospedagem da delegação brasileira. A ministra disse que o orçamento final ficou dentro dos R$ 18,9 milhões anunciados há meses.
O presidente da Biblioteca Nacional, Renato Lessa, que também participou da entrevista, destacou que, apesar de as licitações terem sido feitas só agora, às vésperas do evento, "seu processo já vem desde abril". Ele disse que representantes do ministério viajaram nesse período à Alemanha para tratar exclusivamente do assunto.


PRESIDENTE DA FEIRA DE LIVROS DE FRANKFURT NEGA RACISMO NA ESCOLHA DE ESCRITORES BRASILEIROS

Edição:Adilson Gonçalves Fonte:Da Deutsche Welle

Em entrevista a representantes da imprensa estrangeira em Berlim, o presidente da Feira do Livro de Frankfurt, Jürgen Boos, rejeitou a acusação de que teria havido racismo na seleção dos integrantes da comitiva oficial de autores brasileiros para o evento, que neste ano tem o Brasil como país convidado. "Com toda certeza, não houve nenhum racismo", afirmou.
Uma reportagem publicada mês passado pelo conceituado jornal alemão "Süddeutsche Zeitung" argumenta que, embora 70 escritores tenham sido convidados pelo comitê organizador da participação brasileira, haveria apenas um negro (Paulo Lins) e um descendente de índios (Daniel Munduruku). O artigo conclui que, por isso, o setor livreiro internacional só conhecerá em Frankfurt "um pedaço da grandiosa criatividade brasileira", como alguém que "anda pela Floresta Amazônica ou por Salvador da Bahia com o som ambiente desligado".
"Temos esta mesma discussão todos os anos. Não tem nada a ver com o Brasil ou com minorias", ressaltou. "Quando é feita uma seleção, então é natural que alguns fiquem de fora", observou Boos. Ele reconheceu, entretanto, haver a possibilidade de se realizar uma seleção de acordo com proporcionalidade, como a que ocorreu em 2012, ano em que o país convidado era a Nova Zelândia.
CRITÉRIOS
"No ano passado, sentimos uma grande presença maori. Mas é um dos grandes grupos étnicos da Nova Zelândia, e o país tem tradição de proporcionalidade", comentou. "Não sei quantas centenas de etnias há no Brasil. Mas há outros critérios, como o reconhecimento que o autor tem no país, se ele já foi traduzido, o que é importante, e a forma como ele representa a nação, a língua", sublinhou Boos. "Tenho certeza que, por isso, sempre há os que são deixados de fora, mas isso não é racismo."
A seleção dos nomes para a comitiva oficial é de encargo do lado brasileiro da parceria firmada com a Feira do Livro de Frankfurt.
Boos elogiou o fato de a apresentação brasileira ser pautada por uma imagem que deixa de lado os aspectos mais folclóricos. "O que acho muito legal é que a apresentação do país convidado não brinca com clichês e mostra um Brasil bastante intelectual. Não é caipirinha e samba", comparou. "A cultura brasileira se mostra de outra forma, mais afiada, mais intelectual e sofisticada."
Ele lembra, no entanto, que a parte mais típica não será totalmente esquecida. "Vai haver também sessões de cozinha", observou, referindo-se às promoções de livros de gastronomia brasileira, a ser feita por chefes de cozinha no estande chamado Cozinhando com as Palavras. O futebol também promete ser outro tema de destaque do espaço brasileiro.
MAIS TRADUÇÕES
O presidente da Feira do Livro de Frankfurt também ressaltou o grande número de livros de autores brasileiros lançados na Alemanha por ocasião do encontro. Ele afirmou que até agora são cerca de 300 títulos brasileiros traduzidos do português, quase metade deles, obras de ficção. Esse aumento se deve às diversas bolsas de incentivo lançadas especialmente para o evento. "Sem essa ajuda, não teria sido possível alcançar esse volume de traduções", admitiu.

Boos espera, porém, que o impulso para literatura brasileira na Alemanha tenha frutos futuros e dá exemplo do que ocorreu com nações convidadas por Frankfurt em anos anteriores. "Vemos que há uma certa sustentabilidade. Um exemplo é um livro de um autor neozelandês só publicado agora, um ano depois que a Nova Zelândia foi país convidado", frisa.
Jürgen Boos também não esqueceu do lado mais comercial do setor livreiro. Segundo ele, há um grande interesse das editoras alemãs em investir em livros didáticos no Brasil, um mercado considerado promissor pelos europeus.
"O país compra cerca de 150 milhões de livros por ano, só para escolas. Incluindo o sistema de bibliotecas, acho que são cerca de 400 milhões de livros por ano. O Estado é o grande comprador de livros no Brasil", lembrou. "E quem não sonha em conseguir um contrato desse tamanho? Por isso, as grandes editoras de livros didáticos daqui estão de olho no Brasil." Ele espera que a feira seja um espaço para importantes contatos de negócios entre europeus e brasileiros.
A Feira do Livro de Frankfurt será realizada entre 9 e 13 de outubro. Neste ano, a organização destaca o aumento da participação internacional em relação aos anos anteriores. Cerca de 60% dos quase 7.400 expositores vêm do exterior.


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

CONCURSO A MAIS BELA PÉROLA NEGRA DE SÃO PAULO TEMO APOIO DA ÂNCORA DO SBT, JOYCE RIBEIRO, E DEISE NUNES, EX-MISS BRASIL

Edição: Adilson Gonçalves Texto: Portal AFricas
Foi lançado oficialmente  em São Paulo o novo concurso de beleza que promete revolucionar as estruturas do mercado da moda: “A Mais Bela Pérola Negra de São Paulo”, foi apresentado à imprensa e convidados durante um café da manhã servido no Buffet Manaus. Com a presença da primeira e única miss Brasil negra, Deise Nunes, e da âncora do SBT, Joyce Ribeiro, o concurso irá escolher uma modelo autodeclarada negra para estampar as páginas dos editoriais de moda.
Com apoio da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo (SEPPIR), o evento consiste na realização de um concurso que irá ultrapassar as linhas da passarela.
De acordo com o idealizador do projeto, Carlos Romero, além de possibilitar à escolhida o ingresso no mundo da moda a mesma terá um leque de oportunidades para o crescimento pessoal e profissional.
“Mesmo antes de A Mais Bela Pérola Negra de São Paulo ser escolhida já tenho uma agenda para ela até março de 2014! A ganhadora irá viajar para Angola, ter aulas de postura num workshop com a Deise Nunes, além de tratamento odontológico gratuito e a disponibilidade de ingressar num curso de graduação superior”, explicou Romero
Para a eterna miss Brasil, hoje empresária e apresentadora de TV, Deise Nunes, esta será uma oportunidade de provocar mudanças no mercado.
“Mesmo na época que fui eleita é claro que havia mulheres negras mais bonitas do que eu, mas eu tive a chance de nos representar e agora dou total apoio para que, mesmo tantos anos depois, tenhamos uma nova miss negra”.
Para a jornalista Joyce Ribeiro a iniciativa em auxiliar as candidatas com o workshop faz a diferença.
“As meninas entre 18 e 22 anos têm dificuldade em tomar decisões, com esta possibilidade que o concurso irá disponibilizar elas terão a oportunidade de ter um norte em suas vidas”.
Nos próximos dias será divulgado o período de inscrições para as interessadas e a grande final que irá acontecer em 10 de novembro contará com um júri composto por celebridades, jornalistas e pessoas ligadas ao mundo da moda.

PRIMEIRA REITORA NEGRA DE UMA UNIVERSIDADE FEDERAL DIZ QUE COMPETE À SOCIEDADE DEBATER O RACISMO

 Edição: Adilson Gonçalves Texto: Heloisa Cristaldo /Repórter da Agência Brasil

Brasília – A reitora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Nilma Gomes, entra para a história do país como a primeira mulher negra a comandar uma universidade federal. Empossada em abril, ela acredita que sua escolha para o cargo representa um avanço na luta em favor de políticas raciais no Brasil.

“É o reconhecimento de um grupo etnorracial, de brasileiros negros e negras, que há anos lutam por construção de espaços, por maior democracia, maior igualdade racial na sociedade brasileira”, disse Nilma em entrevista exclusiva à Agência Brasil
Apesar dos avanços conquistados ao longo de séculos, Nilma afirma que ainda existe uma grande desigualdade racial no país. A reitora defende que compete à sociedade debater o racismo e procurar maneiras de superá-lo. A seguir, os principais trechos da entrevista com a reitora.
Agência Brasil – A senhora acredita que os negros estão conseguindo conquistar mais espaços no Brasil?
Nilma Gomes – Eu penso que sim, aos poucos. É um espaço conquistado com um histórico de muitas lutas, de forçar a sociedade brasileira a compreender que democracia e racismo não combinam. Se somos uma sociedade democrática, que caminha para lutas por igualdade e cidadania, não podemos deixar nenhum grupo fora dessas conquistas. Acho que nós, negros e negras, estamos alcançando, de fato, justiça social ou igualdade na sociedade brasileira. Já temos espaço se compararmos com dez, vinte anos atrás, mas ainda acho que falta muito para que igualdade racial e oportunidades igualitárias se concretizem em nosso país.
ABr – Sobre o sistema de cotas no ensino superior, qual o seu posicionamento?
Nilma – Sou favorável às políticas de acesso com ações afirmativas de um modo geral. Não só para os negros, como para mulheres, população LGBT (lésbicas, gays, bissesuais e transgêneros), segmentos que reconhecemos com um histórico de desigualdade. Sobre as cotas, sou favorável para negros no mercado de trabalho e no serviço público. Temos que mapear a presença de população negra nos mais diversos setores da sociedade. Hoje temos o Estatuto da Igualdade Racial, legislação de cotas nas universidades, o princípio da constitucionalidade das ações afirmativas aprovado por unanimidade no Supremo Tribunal Federal. Acho que a sociedade brasileira não precisa ter dúvidas sobre a necessidade ou não de implementar cotas em determinado setor, uma vez que tenha sido comprovada uma sub-representatividade da população negra.
ABr – Como avalia a situação do negro no Brasil hoje, 125 anos após a abolição da escravidão?
Nilma – Ao pensarmos os 125 anos, não é possível dizermos que não temos avanços. Se falássemos que nenhum avanço foi conseguido, estaríamos indo contra a própria luta por igualdade de direitos da população negra e também de outros setores que são partícipes da luta antirracista. Os avanços aconteceram. A minha avaliação é: quando olhamos educação, mercado de trabalho, acesso a saúde, os dados vão mostrando que algum tipo de mudança foi acontecendo ao longo dos anos. Mas ainda persiste uma grande desigualdade quando comparamos o segmento negro e o branco da população: a minha reflexão é que as práticas e políticas que temos ainda não atingiram aquilo que originou a luta anti-racista. O gap [distância] ainda é muito profundo e radical. Temos avanços, sim, mas não podemos nos sentir confortáveis do caminho que ainda falta percorrer. Uma sociedade que se quer, de fato, republicana, tem de conversar sobre suas mazelas e pensar formas de superá-las.
ABr – A senhora conta no seu livro infantil Betina a história de uma avó que trança os cabelos da neta ao falar sobre seus ancestrais. Qual o resultado desse estudo?
Nilma – Essa foi minha tese de doutorado, sob a orientação do professor Kabengele Munanga, da USP [Universidade de São Paulo]. Para alguns dos resultados desse trabalho posso chamar a atenção. Um deles é a força da ancestralidade africana na nossa vivência como negros e negras brasileiros: foquei na questão do corpo e do cabelo. Pude perceber que o penteado que, nós negras brasileiras, adotamos, alguns inspirados inclusive numa estética norte-americana e outros em estética africana, faz parte de um movimento que chamei na tese de uma circularidade cultural de elementos africanos. Temos uma dupla inseparável, que é corpo e cabelo. Quando há uma junção de corpo e cabelo ocorrem práticas racistas: uma coisa é uma pessoa negra com os cabelos alisados, uma pele mais clara, uma pessoa negra que, por miscigenação, tenha cabelos lisos. Outra coisa é uma pessoa negra que tem a tez de pele mais escura. Esse tipo de combinação corpórea a sociedade brasileira faz leituras corporais. Dentro de um imaginário de uma sociedade que ainda é racista, corpo e cabelo são elementos simbólicos fortes. Na minha tese, eu procurei] entender qual foi a força que impulsionou a miscigenação racial no Brasil.