Edição:Adilson Gonçalves Fonte:Da Deutsche Welle
Em entrevista a representantes da imprensa estrangeira em Berlim,
o presidente da Feira do Livro de Frankfurt, Jürgen Boos, rejeitou a acusação
de que teria havido racismo na seleção dos integrantes da comitiva oficial de
autores brasileiros para o evento, que neste ano tem o Brasil como país
convidado. "Com toda certeza, não houve nenhum racismo", afirmou.
Uma reportagem publicada mês passado pelo
conceituado jornal alemão "Süddeutsche Zeitung" argumenta que, embora
70 escritores tenham sido convidados pelo comitê organizador da participação
brasileira, haveria apenas um negro (Paulo Lins) e um descendente de índios
(Daniel Munduruku). O artigo conclui que, por isso, o setor livreiro
internacional só conhecerá em Frankfurt "um pedaço da grandiosa
criatividade brasileira", como alguém que "anda pela Floresta
Amazônica ou por Salvador da Bahia com o som ambiente desligado".
"Temos esta mesma discussão todos os
anos. Não tem nada a ver com o Brasil ou com minorias", ressaltou.
"Quando é feita uma seleção, então é natural que alguns fiquem de
fora", observou Boos. Ele reconheceu, entretanto, haver a possibilidade de
se realizar uma seleção de acordo com proporcionalidade, como a que ocorreu em
2012, ano em que o país convidado era a Nova Zelândia.
CRITÉRIOS
"No ano passado, sentimos uma grande
presença maori. Mas é um dos grandes grupos étnicos da Nova Zelândia, e o país
tem tradição de proporcionalidade", comentou. "Não sei quantas
centenas de etnias há no Brasil. Mas há outros critérios, como o reconhecimento
que o autor tem no país, se ele já foi traduzido, o que é importante, e a forma
como ele representa a nação, a língua", sublinhou Boos. "Tenho
certeza que, por isso, sempre há os que são deixados de fora, mas isso não é racismo."
A seleção dos nomes para a comitiva oficial é
de encargo do lado brasileiro da parceria firmada com a Feira do Livro de
Frankfurt.
Boos elogiou o fato de a apresentação
brasileira ser pautada por uma imagem que deixa de lado os aspectos mais
folclóricos. "O que acho muito legal é que a apresentação do país
convidado não brinca com clichês e mostra um Brasil bastante intelectual. Não é
caipirinha e samba", comparou. "A cultura brasileira se mostra de
outra forma, mais afiada, mais intelectual e sofisticada."
Ele lembra, no entanto, que a parte mais
típica não será totalmente esquecida. "Vai haver também sessões de
cozinha", observou, referindo-se às promoções de livros de gastronomia
brasileira, a ser feita por chefes de cozinha no estande chamado Cozinhando com
as Palavras. O futebol também promete ser outro tema de destaque do espaço
brasileiro.
MAIS TRADUÇÕES
O presidente da Feira do Livro de Frankfurt
também ressaltou o grande número de livros de autores brasileiros lançados na
Alemanha por ocasião do encontro. Ele afirmou que até agora são cerca de 300
títulos brasileiros traduzidos do português, quase metade deles, obras de
ficção. Esse aumento se deve às diversas bolsas de incentivo lançadas
especialmente para o evento. "Sem essa ajuda, não teria sido possível
alcançar esse volume de traduções", admitiu.
Boos espera, porém, que o impulso para
literatura brasileira na Alemanha tenha frutos futuros e dá exemplo do que
ocorreu com nações convidadas por Frankfurt em anos anteriores. "Vemos que
há uma certa sustentabilidade. Um exemplo é um livro de um autor neozelandês só
publicado agora, um ano depois que a Nova Zelândia foi país convidado",
frisa.
Jürgen Boos também não esqueceu do lado mais
comercial do setor livreiro. Segundo ele, há um grande interesse das editoras
alemãs em investir em livros didáticos no Brasil, um mercado considerado
promissor pelos europeus.
"O país compra cerca de 150 milhões de
livros por ano, só para escolas. Incluindo o sistema de bibliotecas, acho que
são cerca de 400 milhões de livros por ano. O Estado é o grande comprador de
livros no Brasil", lembrou. "E quem não sonha em conseguir um
contrato desse tamanho? Por isso, as grandes editoras de livros didáticos daqui
estão de olho no Brasil." Ele espera que a feira seja um espaço para importantes
contatos de negócios entre europeus e brasileiros.
A Feira do Livro de Frankfurt será realizada
entre 9 e 13 de outubro. Neste ano, a organização destaca o aumento da
participação internacional em relação aos anos anteriores. Cerca de 60% dos quase
7.400 expositores vêm do exterior.
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